Vozes dissonantes na processualidade da reinvenção do eu em quarto de despejo

O presente artigo procura demonstrar o modo como a escritora Carolina Maria de Jesus mobilizou uma série de recursos literários na construção de sua poética de resíduos, agenciadora de uma reciclagem de linguagens e de si mesma. Desse modo, tem como temática a multiplicidade de vozes que pulsam no d...

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Published inRevista ratio Juris Vol. 5; no. 11
Main Author Raffaella Andréa Fernandez
Format Journal Article
LanguageSpanish
Published Universidad Autonoma Latinoamericana 01.06.2017
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Summary:O presente artigo procura demonstrar o modo como a escritora Carolina Maria de Jesus mobilizou uma série de recursos literários na construção de sua poética de resíduos, agenciadora de uma reciclagem de linguagens e de si mesma. Desse modo, tem como temática a multiplicidade de vozes que pulsam no discurso produzido pela catadora de lixo Carolina Maria de Jesus em seu best seller intitulado Quarto de despejo (1960). Por se tratar de um “diário”, a escrita do texto na primeira pessoa do singular presentifica, na capa, o nome que pode assumir posições múltiplas e simultâneas. Desse modo, as três instâncias narrativas confundem o receptor ingênuo que acaba por não questionar o processo de ficcionalização da narrativa, pois o Eu da vida extratextual garante a “verdade” do discurso. No entanto, observa-se nessa narrativa a ocorrência de fraturas na processualidade do Eu, que invoca a persona, isto é, as máscaras de revelação e ocultação da autora, na qual uma personagem foi criada de acordo com os padrões de “boa conduta” dos idos de 1950. Esse fluxo de rupturas pode ser notado, inclusive, na co-autoria do editor e jornalista Audálio Dantas, marcados pelos recortes efetuados nos bastidores da representação da escritora da favela. Porém, não podemos perder de vista a desconstrução que a própria construção da subjetividade impõe, revelando assim uma outra face. Aliado a isso, autora e narradora se desdobram não apenas em personagem, mas também na reprodução de discursos que perpassam seu palmilhar cotidiano, ampliando o entendimento da dinâmica cultural de sua coletividade. Nesse sentido, fica explicita a existência pontos de vista distintos e coexistentes na confluência de suas inspirações subjetivas.
ISSN:1794-6638
2619-4066
DOI:10.24142/raju.v5n11a8