A teoria da carnavalização e o romance Ensaio sobre a cegueira – ou por que ler Saramago

Para uma leitura reflexiva da obra de José Saramago, sobretudo dos romances construídos a partir de Levantado do chão até Ensaio sobre a cegueira, a teoria da carnavalização (elemento presente nas raízes do gênero romanesco, segundo os estudos de Mikhail Bakhtin) constitui um instrumento indispensáv...

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Published inNavegações Vol. 15; no. 1; p. e43049
Main Author Wertheimer, Ana Maria Coelho Silva
Format Journal Article
LanguageEnglish
Published 11.08.2022
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Summary:Para uma leitura reflexiva da obra de José Saramago, sobretudo dos romances construídos a partir de Levantado do chão até Ensaio sobre a cegueira, a teoria da carnavalização (elemento presente nas raízes do gênero romanesco, segundo os estudos de Mikhail Bakhtin) constitui um instrumento indispensável. Nesses romances, a teoria marxista da linguagem, desenvolvida pelo filósofo russo, articula-se com os intuitos ideológicos da prosa do celebrado escritor português. O presente artigo tem por objetivo analisar a carnavalização em Ensaio sobre a cegueira: a história de um inédito surto epidêmico que leva uma população à cegueira, com exceção de uma mulher que, não por acaso, é esposa de um médico oftalmologista. Pela voz do narrador onisciente, característico de José Saramago, e pela perspectiva da mulher do médico, são narrados acontecimentos que, para um leitor mais perspicaz, apontam para uma segunda voz, para um diálogo não finalizante, que dá margem a uma segunda interpretação ainda mais reveladora, o que está relacionado ao conceito de dialogismo. Com a virada do século XXI, Bakhtin e a teoria da carnavalização parecem ter sido superados pelas correntes pós-modernas; no entanto, Saramago continua a ser marxista, o que justifica uma investigação sobre aspectos carnavalescos em sua obra.
ISSN:1982-8527
1983-4276
DOI:10.15448/1983-4276.2022.1.43049