DROXIUREIA E ÚLCERAS DE MEMBROS: VALE A PENA SUSPENDER? ESTUDO DE COORTE RETROSPECTIVO DE PACIENTES ADULTOS BRASILEIROS COM DOENÇA FALCIFORME

O papel da Hidroxiureia (HU) no surgimento ou agravamento de úlceras de membros em pacientes com Doença Falciforme (DF) ainda é motivo de debate. Este estudo pretendeu avaliar a evolução das úlceras maleolares nesses pacientes e buscar possíveis associações desses desfechos com o uso de HU. Realizad...

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Published inHematology, Transfusion and Cell Therapy Vol. 44; pp. S54 - S55
Main Authors Benites, BD, Guidini, VH, Lino, JCA, Costa, FF, Saad, STO, Gilli, SCO
Format Journal Article
LanguageEnglish
Published Elsevier España, S.L.U 01.10.2022
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Summary:O papel da Hidroxiureia (HU) no surgimento ou agravamento de úlceras de membros em pacientes com Doença Falciforme (DF) ainda é motivo de debate. Este estudo pretendeu avaliar a evolução das úlceras maleolares nesses pacientes e buscar possíveis associações desses desfechos com o uso de HU. Realizada análise retrospectiva dos prontuários de 33 pacientes adultos com DF e identificados como portadores de úlceras em membros inferiores, atendidos no Hemocentro UNICAMP entre 2000 e 2020. Os dados foram compilados quanto a características demográficas, genótipo, número e tamanho das lesões, duração e evolução (cicatrização/regressão completa ou manutenção/aumento da lesão), bem como uso de HU e dose. Dos 33 pacientes, 29 (88%) eram HbSS, 3 (9%) HbSC e 1 (3%) Sβ0, sendo 15 (45,5%) mulheres e 18 (54,5%) homens; a média de idade de início das lesões foi de 40 (14-70) e 33 (19-51) anos, respectivamente, com tempo médio de evolução de 58 (1-240) meses. Treze pacientes (40%) tiveram mais de uma lesão simultaneamente e 11 (33%) tiveram acometimento bilateral. No período avaliado, 22 (67%) tiveram alguma úlcera completamente cicatrizada; 3 (9%) diminuição do tamanho; em 5 (15%) não houve alteração e em 3 (9%) houve aumento de tamanho. 16 pacientes (48%) relataram dor; 14 (42%) tiveram algum episódio de infecção e antibióticos foram usados por 20 pacientes (61%). O principal tratamento prescrito foi curativo com agentes cicatrizantes (73%); 16 pacientes (48%) estavam em uso de HU no momento do aparecimento da úlcera. Comparando os 2 grupos quanto ao uso de HU, não houve diferença significativa em: i) duração das lesões (com HU: duração mediana de 75 meses (5-188), sem HU: 38 (2-240), p = 0,87, teste de Mann-Whitney), ii) desfecho: melhora/cicatrização completa ou aumento (p = 0,68, teste exato de Fisher) ou iii) dose média semanal (com melhora das lesões: 7,3g/semana (5-8,5) x sem melhora: 7,81 (4,5-12,25), p = 0,96, teste de Mann-Whitney). Dos 16 pacientes em uso inicial de HU, 7 (43,75%) tiveram o medicamento suspenso pelo médico assistente no momento do aparecimento da úlcera, 6 (37,5%) mantiveram a dose e 3 (18,75%) tiveram a dose aumentada devido a outras complicações que justificaram a conduta. Além disso, 8 pacientes inicialmente sem HU tiveram seu uso indicado apesar da ocorrência de úlcera. Comparando os 7 pacientes que tiveram o uso de HU interrompido em relação àqueles que tiveram sua dose aumentada ou começaram a usar apesar das úlceras (n = 11), não houve diferença em termos de cicatrização/diminuição versus aumento das lesões (p = 0,59, teste exato de Fisher). Observamos que o uso de HU não se associou a maior chance de piora das úlceras maleolares. Especulamos que a descontinuação da droga tende na verdade a aumentar a incidência de crises vaso-oclusivas, o que poderia, consequentemente, resultar no recrudescimento das lesões. A presença ou surgimento de úlceras não deve ser um fator limitante para o uso de HU, pois muitos pacientes não apresentam piora das lesões após sua introdução. Essa mudança de paradigma levou nosso centro a reconsiderar a suspensão da Hidroxiureia em pacientes com úlceras maleolares, acreditando que o efeito benéfico da droga é maior do que o possível impacto negativo no surgimento ou manutenção das lesões.
ISSN:2531-1379
DOI:10.1016/j.htct.2022.09.091