GESTAÇÃO DURANTE TRATAMENTO DE LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA – RELATO DE CASO

O tratamento atual da leucemia mieloide crônica (LMC) reduziu a mortalidade e aumentou a prevalência da doença, com consequente aumento do número de pacientes do sexo feminino em idade reprodutiva. O uso de inibidores da tirosina quinase (TKIs) em mulheres com LMC durante a gestação torna-se arrisca...

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Published inHematology, Transfusion and Cell Therapy Vol. 44; pp. S219 - S220
Main Authors Valente, MFCB, Ribeiro, KMM, Tavares, RB, Utsch, PRC
Format Journal Article
LanguageEnglish
Published Elsevier España, S.L.U 01.10.2022
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Summary:O tratamento atual da leucemia mieloide crônica (LMC) reduziu a mortalidade e aumentou a prevalência da doença, com consequente aumento do número de pacientes do sexo feminino em idade reprodutiva. O uso de inibidores da tirosina quinase (TKIs) em mulheres com LMC durante a gestação torna-se arriscado devido à sua teratogenicidade. A raridade de casos reportados e questões éticas dificultam tomada de decisões e manejo dessas pacientes. Relatar caso de paciente do sexo feminino com diagnóstico de LMC e gestação um mês após o início de tratamento com TKI. Paciente de 23 anos, feminino, com dor abdominal (esplenomegalia), sudorese noturna e perda ponderal há dois meses. Exames de rastreio evidenciando leucocitose (90.900/mm3) com escalonamento maturativo até mielócitos, BCR-ABL p210 detectado e cariótipo normal. Iniciado terapia alvo com imatinibe, porém, gestação após um mês do tratamento com interrupção imediata do TKI. Na ocasião, já com resposta hematológica e, em exames laboratoriais seriados, evidenciado perda de resposta com piora progressiva da leucocitose. Após a 17ªsemana de gestação, discutido riscos e benefícios em conjunto com a paciente e optado pelo retorno da medicação na dose habitual; uma nova resposta hematológica foi atingida após três semanas de tratamento. Durante todo o período, recebeu acompanhamento ambulatorial em conjunto com pré-natal de alto risco. Episódios de hiperêmese e dor abdominal em cólica, com piora dos sintomas após o terceiro trimestre e necessidade de redução de dose/suspensão do TKI em certos períodos. Ultrassonografia obstétrica de rastreio no terceiro trimestre com evidências de oligoidramnio e necessidade de internação para acompanhamento. Toda a gestação evoluiu sem intercorrências obstétricas clinicamente significativas e o parto foi interrompido com 37 semanas, não sendo identificados efeitos teratogênicos no recém-nascido. A LMC é uma neoplasia mieloproliferativa crônica caracterizada pela translocação t(9;22)(q34.1;q11.2) - cromossomo Philadelphia (gene fusão BCR-ABL). Apresenta-se com frequência na fase crônica; sem terapia específica evolui naturalmente para fase acelerada ou crise blástica. A incidência aumenta com a idade e, devido à terapia com TKI, houve expressiva redução da mortalidade e aumento da prevalência, incluindo mulheres em idade fértil. A concepção das pacientes em tratamento ativo e sem resposta molecular profunda deve ser desencorajada pelo alto risco de teratogenicidade e ausência de diretrizes específicas. Diante da suspeita de gestação, deve-se interromper imediatamente a terapia com TKI; a partir da 16ªsemana de gestação, a organogênese do feto está bem estabelecida e a reintrodução pode ser realizada de forma cautelosa (risco/benefício). As citopenias secundárias à medicação devem ser manejadas, principalmente no período pré-parto. Gestações não planejadas são um desafio terapêutico para pacientes com LMC, principalmente naquelas que não atingiram resposta molecular. A descontinuação da terapia (remissão livre de tratamento) em pacientes com resposta molecular profunda pode levar a uma gestação sem qualquer intervenção específica. A idade gestacional e a fase clínica da LMC são determinantes para a conduta hematológica/obstétrica. Questões de fertilidade e gravidez devem ser idealmente discutidas ao diagnóstico. Situações particulares podem justificar o uso de TKI e o aconselhamento sobre o possível risco/benefício de interromper ou atrasar a terapia deve ser compartilhada.
ISSN:2531-1379
DOI:10.1016/j.htct.2022.09.370