“Lar no estranho” ou “estranho lar” uma leitura de Os laços de família e Amor de Clarice Lispector

Em várias obras de Clarice Lispector, pode-se identificar um padrão narrativo que consiste na presença de uma tensão constante e crescente, que culmina em uma experiência epifânica por parte das protagonistas. A presente análise argumenta que, no caso dos contos Os laços de família e Amor, ambos de...

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Published inREVELL : Revista de Estudos Literários da UEMS Vol. 1; no. 34; pp. 223 - 242
Main Author Magalhaes da Silva, Ana Paula
Format Journal Article
LanguageEnglish
Portuguese
Published 12.04.2023
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Summary:Em várias obras de Clarice Lispector, pode-se identificar um padrão narrativo que consiste na presença de uma tensão constante e crescente, que culmina em uma experiência epifânica por parte das protagonistas. A presente análise argumenta que, no caso dos contos Os laços de família e Amor, ambos de 1960, a revelação epifânica vivenciada por Catarina e Ana, respectivamente, dá-se não apenas pelo olhar fenomenológico das protagonistas sobre elementos cotidianos, como é comum na obra clariciana, mas será acionada por um componente crítico a essas narrativas, a saber, o sentido freudiano do estranho despertado pela (assustadora) possibilidade do retorno ao útero materno, seja esse metafórico ou simbólico. Em outras palavras, a epifania ocorre quando as protagonistas testemunham a transmutação da sensação de estar-se protegido, em casa (heimish), no estranho (unheimlichen) e o deparar-se no estranho lar (das unheimliche Heim). No caso de Os laços de família, e com base nos estudos psicanalíticos de Melanie Klein, defendo que o contato físico involuntário entre mãe e filha constitui o gatilho para a experiência do estranho, revelando a relação conflituosa entre a mãe egoísta e a filha invejosa e a tardia compreensão da unidade do "seio bom" e do "seio mau". Em Amor, adotando como principal referencial teórico o paradigma edipiano formulado por Freud e sua associação com a lógica paterna, masculina, e com a religião monoteísta hegemônica, defendo que a visão do cego mascando chiclete - o qual representa o sujeito pré-edipiano que reintroduzirá Ana ao reino que antecede à Cultura e seus tabus - aciona a experiência epifânica por simbolizar um possível retorno às origens e, simultaneamente, à morte, com início e fim se confundindo e apontando para a unidade pré-natal ideal, experimentada no útero materno.
ISSN:2179-4456
2179-4456
DOI:10.61389/revell.v1i34.7278