Gravidez na adolescência e violência doméstica no contexto da atenção primária à saúde

Introdução: A gravidez na adolescência tem ainda alta incidência no Brasil, mesmo após grande redução nas últimas décadas, e pode estar relacionada a situações de vulnerabilidade social e de violência doméstica. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é fundamental na atenção à saúde do adolescente,...

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Published inRevista brasileira de medicina de família e comunidade Vol. 16; no. 43; p. 2401
Main Authors Aguiar, Camilla Moura, Gomes, Kilma Wanderley Lopes
Format Journal Article
LanguageEnglish
Published Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade 15.07.2021
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Summary:Introdução: A gravidez na adolescência tem ainda alta incidência no Brasil, mesmo após grande redução nas últimas décadas, e pode estar relacionada a situações de vulnerabilidade social e de violência doméstica. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é fundamental na atenção à saúde do adolescente, entretanto tem se mostrado pouco atuante no enfrentamento das violências nessa faixa etária. Objetivo: Este estudo objetivou descrever o perfil socioeconômico e identificar características materno-fetais e situações de vulnerabilidade social das jovens com histórico de gravidez na adolescência, analisando possíveis associações com a ocorrência de violência doméstica.Metodologia: Trata-se de estudo transversal, com entrevista de 100 adolescentes entre 13 e 19 anos com histórico de gravidez em 2018 de bairro pobre de Fortaleza - CE. Foi aplicado questionário com 57 questões e as variáveis analisadas foram as relacionadas ao perfil sociodemográfico, ao seguimento do pré-natal, ao nascimento da criança e à exposição à violência doméstica durante a gestação. Foram realizados teste qui-quadrado (χ2) e Odds Ratio (OR) na análise. Resultados: A idade média das entrevistadas foi 17,5 anos (dp=1,65). A renda familiar média foi 1,18 salário-mínimo (dp=0,83), 91% eram negras ou pardas, 57% estavam em união consensual e 18% tinham emprego. Com relação à escolaridade, 71% haviam interrompido os estudos, sendo que 46,5% delas o fez antes da primeira gravidez e 35,2% pararam de estudar depois de engravidar. No seguimento de pré-natal, 96,3% realizaram pelo menos uma consulta, 62,1% iniciaram no primeiro trimestre e 69,1% realizaram 6 ou mais consultas. Dentre as crianças, 7,6% e 6,4% nasceram prematuras e com baixo peso respectivamente. A porcentagem de violência doméstica foi 26% e o principal agressor foi o companheiro. Sofrer violência doméstica teve associação estatisticamente significativa com baixa escolaridade (OR 4,06; IC95% 1,27-12,97), menor idade materna (OR 4,2; IC95% 1,43-12,32) e “história de internação de recém-nascido” (OR 3,83; IC95% 1,34-10,95). Conclusão: As mães adolescentes estavam inseridas em contexto de vulnerabilidade social e parte considerável foi vítima de violência durante a gestação, situação associada à baixa escolaridade e menor idade da adolescente. As consequências negativas para saúde do recém-nascido foram mais frequentes em situações de violência. Notou-se que as adolescentes tiveram boa frequência no pré-natal e isso pode ter influenciado positivamente os desfechos obstétricos e neonatais. A gestação é, muitas vezes, o primeiro contato dessa jovem com o serviço de saúde e acesso à assistência pré-natal na ESF pode reduzir complicações materno-infantis e auxiliar na identificação da violência doméstica.
ISSN:1809-5909
2179-7994
DOI:10.5712/rbmfc16(43)2401